quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Ansiedade

Se olha no espelho e pensa “a saia está curta demais”, troca pela calça e pensa “mostrando pele de menos”, coloca uma blusa com um decote e “tudo escuro demais”, volta para a saia e com um sapato rasteiro resolve parcialmente o problema da falta de pano da saia. Perfume nos locais mais importantes: Pescoço, colo e pulsos. Blush para deixar as bochechas rosadas e o rímel de todos os dias, seguido do curvex para que se sinta mais feminina.
Olha para o telefone que não toca, a coragem de ligar se esvai. Olhares no espelho, ensaios de um sorriso. A aspereza das mãos de motorista disfarçada com hidratante sempre na bolsa. Checa-se o hálito. Olhar no espelho por todos os ângulos, procurando manchas, marcas, qualquer detalhe. Precisava voltar a malhar, já estivera mais magra. A distância que mantinha do cigarro desde a noite passada deveria ser recompensada, ainda mais se pensar na tensão que todo aquele “mais será?” impõe e no quanto a tensão a aproximava dos famigerados.
Não costumava ouvir os outros, mas depois de amigos esfregarem evidências em sua cara passou a acreditar que ele realmente tinha algum interesse por ela. Recíproco, evidentemente, por mais que ela julgasse irreal demais a atração dele por uma menina tão comum. Por mais que não estivesse apaixonada tinha consciência do quando ele era um homem sensacional a ponto de se perguntar como não se apaixonava. O tratamento era impecável: sem frescuras, mas com cuidado e demonstrando sempre que era lembrada. Atração física? Bom, da parte dela ocorria desde a primeira vez que o viu, a ponto das amigas lembrarem os comentários no dia seguinte.
Era a melhor companhia dos últimos tempos, sem dúvida nenhuma. Inteligente, divertido. Horas de conversa podiam acontecer sem que em momento algum houvesse um desinteresse por parte de ambos. Sempre tinha algo para contar, mesmo sem saber que conhecer coisas novas, histórias novas e aprender coisas novas eram dos maiores atrativos para ela.
E lá estavam eles, entre olhares e dúvidas que quanto mais esclarecidas parecem ser, maiores tendem a ficar. Envoltos pela confusão que é a realidade humana. Soterrados pela falta de certeza e a dificuldade que a impossibilidade de sinceridade imposta pela sociedade traz de presente. Esperando, aguardando. Ansiedade.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

sem título #2

Você não me deixa dormir, eu pensei, porque você tem um despertador preto ao lado da cama, um despertador gigantesco, igual ao da minha avó, com o desenho de uma fazenda, e aquele tique-taque me perturba, me perturba junto com o ranger dos teus dentes, que não pára jamais. Não entendo como alguém tem o mesmo despertador desde os 12 anos, mas vou esquecer de te perguntar isso quando me levantar. Você não me deixa dormir, porque insiste em segurar o meu braço e prende meus dedos embaixo dos teus, apóia o peso do teu corpo em mim, o que me faz sentir como se pudesse te proteger, mesmo que minha mão seja a metade da tua, e que eu fique dolorida por não ter força para te deitar para o outro lado e ficar mais a vontade. Você não me deixa dormir, eu gosto de acordar de madrugada para ir a cozinha acender um cigarro, você odeia meus cigarros, diz que meus dentes ficarão amarelos, reclama do meu pulmão estragado e que vou morrer cedo, se chateia quando eu digo que não me importo com a velhice. Pois deveria ligar, sua tonta, você diz, porque nós temos muito o que viver, eu pergunto se nós é igual a nós dois, eu e tu, você faz cara de tolo e responde um talvez muito baixo, igual ao barulhinho que você faz quando respira, sim, você ronca de vez em quando, por mais que negue. Você não me deixa dormir porque eu gosto de conversar na cama, de falar besteira, só durmo tranqüila depois de esvaziar minha mente de qualquer pensamento idiota, mas você fecha os olhos e nem me ouve, só diz, ‘ei, bons sonhos!’, nem me beija, nem faz um afago, no início estranhei, depois me dei conta que o teu rosto risonho e os teus pés nas meias felpudas valem mais para mim que qualquer convenção noturna.

-Que foi?

-Você não me deixa dormir.

-Encosta aqui, vem, fecha os olhos... boa noite...

domingo, 2 de dezembro de 2007

Focando em Virgínia.

Ela me diz que eu deveria ter mais autoconfiança. Não vejo sentido algum nisso– de que me adianta crer em algo que a minha razão me explica que não funciona? É como acreditar que sou capaz de voar, e me atirar do sétimo andar no meio do expediente, assim, pra dar uma refrescada: é loucura. Como ela, eu vejo tantos ingênuos acreditando que é só mudar a cabeça, e não o mundo – já viu o quanto se vendem livros sobre auto-estima, autocontrole, autoqualquercoisa? Acho meio cômodo, mas eu não teria uma idéia melhor, também. Uma das poucas coisas que acho que sei dessa vida bizarra é que a verdade é só uma questão de ponto de vista. O ser humano é movido pela interpretação que ele mesmo faz das coisas das quais toma conhecimento: o que eu não sei, não existe. Algum grego dizia algo parecido, não lembro qual. Então, se a crença é um dos únicos poderes que temos, nada mais justo do que aprender a acreditar no que se quer. Acho justo.

Enquanto ela falava, lembrei da gente. Cara, já não ligo de saber o que se passa na sua cabeça, não me interessa, porque, se fosse outra pessoa, era capaz dela me dizer e eu não acreditar. O meu mentirômetro nunca funcionou muito bem, e acho que nem você sabe o que está acontecendo aí. Então, se é impossível saber a verdade do outro, que diferença faz? Por hora, portanto, nada é mais coerente do que o seu silêncio, e eu já não fico tentando adivinhar os seus pensamentos há muito tempo. Eu me torturava com isso, sabia? Agora já não ligo mais. Tenho andado em nuvens, e, visto que tudo é uma questão de interpretação, quem se importa com o sólido, com o estável? Eu sou fluida, e intensa, e me cabe nós leves assim, sem vínculos declarados. Você me faz bem. Eu achava que não daria certo nunca, que não tinha jeito, mas já estava dando e eu só percebo isso agora, um flash inoportuno de compreensão, já que ela está me falando sobre mudanças, como me comportar, como agir, e eu aqui, ingênua convertida há dois segundos, pensando em você de novo. Vou me concentrar nela. Penso em você mais tarde, naturalmente.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

sem título

Existe um brilho qualquer num abrir de olhos no escuro, de enxergar as luzes dos 18 andares acima de nós refletidas no teu rosto. Existe algo de bonito no mexer das pernas, no tocar dos dedos para fugir do frio. Nos fios de cabelo que sobram em nossos travesseiros, no hálito quente do teu bom dia, em levantar se arrastando pelo corredor, de preguiça, da vontade de ficar ali muito mais que as horas que, na minha mente, se transformaram em meros minutos.

Tomando o café entre fumaça, sorrisos e olhares baixos, fingindo não ver o dia correr, fingindo não fazer planos. Vamos nos entregar aos poucos ao susto, a não saber aonde chegaremos. Sem medo, porque, bem ou mal, conhecemos o caminho. Conhecíamos há muito tempo; apenas não tínhamos encontrado quem nos levaria até ele.

Toma a minha mão, eu te conduzo. E sei que farás o mesmo por mim, quando for preciso.

Pensei que nada nasceria na minha pele, no meu corpo, que nada brotaria, porque não havia quem pertencesse aqui. Que o cheiro grudado nos lençóis sairia cinco minutos depois da tua partida, e que a bagunça da cama se arrumaria num passe de mágica, para voltar a minha própria desordem, de cigarros, ironia e distração. Pensei que não havia ninguém para pedir, gritar, ansiar o amanhã, para sentir uma música, ler a lua, ouvir a noite chegar e admitir que, um dia, as coisas saíram dos trilhos e desobedeceram minha ordem para manter o controle. Lembro da surpresa de te olhar uma, duas, dez vezes, e me reconhecer em todas elas. O lado bom, me alegrei por encontrar. Mas não sabia que poderia ver em você até as sombras, de deboche, inquietude, impulsos, desconfiança, o que sei que é ruim e insisto em ignorar, mas que você me faz ver, só para que eu saiba que não posso fugir do que sou. Não posso fugir porque você está em mim.

Eu quero ver você saindo do quarto, buscando as roupas no chão, atrasado para sair, com raiva, com tédio, sendo distante, sentindo saudades, quero você para suportar a rotina, para não sufocar nos dias quentes, para explodir de desejo, para fechar os olhos durante as brigas e fingir que nada ouço. Quero você para me olhar como se eu fosse uma louca de hospício, quando digo que meu estômago revira no simples abrir dos teus olhos, no escuro das quatro da manhã.

Reviram-se as entranhas, a garota se revira. Está viva, afinal. E passa muito bem.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Confessando um milímetro de saudade...

Não paro de pensar, e cada vez penso mais. Foste a primeira coisa que concebi ao sair da cama pela manhã e a última a qual me dediquei a noite, antes de dormir. Guardo para mim tal anseio pelo receio (rimei!) que carrego como herança graças ao recente histórico que deixou dilacerada minha auto-estima.

Se no engarrafamento lembro-me de seu sorriso e antes mesmo de sonhar em te ter já escrevo textos melosos confessos, guardo o pavor de alguém que teme o que quer e que não leva consigo a confiança necessária para acreditar que tais sentimentos sejam possíveis, plausíveis e realizáveis.

A óbvia falta de reciprocidade faz com que engenhe que seria melhor ignorar tais devaneios, os quais considero insanos. Ao mesmo tempo em que, a lembrança de que o vazio no peito é desgastante e desagradável, me permite acreditar que qualquer sentimento faz com que haja, ao menos, a esperança. E a doçura com que ela ajuda a viver me torna mais corajosa para continuar.

Deixo subentendidos meus desejos, sempre com a velha defensiva da boa amizade que, aqui, confesso ir além de inocentes sentimentos de companheirismo, compaixão e carinho. Mesmo que ainda muito longe do tal amor, que tantos dizem sentir de uma forma inconseqüente, admito que tu não sais da minha cabeça e eu, por mais horas que tenha dedicado a pensar a respeito, ainda não encontrei solução para isso. E nem sei se quero. E o pior, ou talvez melhor, é que nem sonhas em saber disso!

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Mantra

Se tem uma coisa pior do que levar um fora de quem a gente gosta, é levar um fora de quem a gente não gosta. Tipo quando num belo dia você resolve pegar aquele carinha que não tem muito a ver, mas, ah não custa nada, vai que ele te trata bem e você ainda se sente livre de qualquer culpa de dar umazinha sem compromisso.
Aí ele te liga e te chama pra sair. Beleza. Você procura a roupa mais despojada e bonitinha possível, coloca umas gotas a mais de perfume e vai entoando o mantra “não vou dar hoje, não vou falar sobre como os homens não valem nada, não vou dar, não vou falar, não-dar, não-falar...”. É preciso ser, no mínimo, misteriosa para conseguir um homem que te coma e te compreenda sem ser seu namorado.
Aquela chuva, em plena quarta-feira, vocês no carro sem ter pra onde ir. Concentração não-dar, não-dar, não-dar. E obviamente ele pára numa ruazinha qualquer e começa a sessão de beijos, amassos, mãos e você não-dar, não-dar, não-dar. E ele te pergunta, “o que houve? Você não quer?”. Ah meu filho, claro que eu quero, mas porra vocês homens não prestam. Concentração não-falar, não-falar, não-falar.
Mas ele se mostra tão cordial e mente aberta que você acaba falando. E o papo flui, parece até que ele entendeu o que você quis dizer. E já que você falou, por que não dá logo de uma vez, né? E dá mesmo. Uma beleza. Achou um cara que te coma, te compreenda e ainda por cima nem é seu namorado.
Porém, apesar de ligar quase diariamente, o cara tá sempre cansado. Se não tá cansado agora, vai ficar cansado mais tarde por que ainda tem muita coisa pra fazer e até a hora de vocês saírem ele vai estar muito cansado. Você até começa a sentir cansaço por ele, de tão cansado que ele fica.
E entre uma cerveja e outra num bar com uma amiga, o zé te liga, cansado. Sob efeito da bebida a única coisa que vem a sua cabeça é exatamente o que você fala. “Ih você tá sempre cansado hein, desse jeito tá foda”. Aliás, não tá foda, esse é o problema.
E ele responde com toda malandragem que um homem é capaz de ter: “ah, para de show”. A frase ecoa. E sua única reação é rir. E completa com um tá bom, beijo, a gente se fala.
Ele só te comeu uma vez e nunca te compreendeu. É claro, ele nem era seu namorado.

Sempre estranho.

Encontrei o amor onde menos esperava, na esquina que dobrava sobre os segundos que se esticavam, ali na fila do pão. O essencial. O estritamente necessário. Contraste completo com o efêmero que até então fora eterno e constante em seu não-ser.

Até então.

O simples se apresentava tão mais intenso que o complexo vazio, um engasgar no meu relógio, o nó na minha garganta - desatou.

Achei o amor quando pensava já tê-lo encontrado nas palavras mais perspicazes, e mais falsas e fugazes que o capricho de meus humores.

Comparei esses “amores”.

E percebi que meus sentidos ansiosos enxergaram no implausível o inexistente – ponto final. E compreendi, então, a impossibilidade de saber o que quer que seja, já que nada é válido no terreno do imprevisível, e eu nunca fui estável. A Certeza me será, portanto, para sempre uma estranha.

A manhã não prometia surpresas, mas me revelou o que parecia ser o que eu nem sabia que procurava.

-Oi.

sábado, 17 de novembro de 2007

A história de nós dois.

Ele, bagunçado, agitado e insolente. Ela, sofisticada, tranqüila e muito decente. Ele, fanático, fumante e fantástico. Ela, fã consciente, não menos fumante e faceira. Ele, cabelo despenteado, língua afiada e copo na mão. Ela, lisa escorrida, vocabulário sutil e cardápio em mãos. Ele, moleque, garoto, homem em evolução. Ela, menina, adolescente, mulher em ascensão. Ele, alto, forte, confiante. Ela, mediana, fracote, insegura. Ele, por vezes decidido, impulsivo, latejante. Ela, sempre questionadora, reflexiva, flamejante. Ele, namorador, ciumento, sumido. Ela, enrolada, calada, ausente. Ele, palavras na boca. Ela, artigos no papel. Ele, sentimento confuso. Ela, coração sofrido. Ele, saudade duvidosa, atitudes em questão. Ela, receptivamente amorosa. Ele, passado presente. Ela, futuro ao alcance das mãos. Eles, convivência conturbada, desencontros em seqüência, amizade eternamente apaixonada.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

obsessão pouca é bobagem [ou 'when a (stupid) girl meets a (stupid) boy']

Eu me viro, reviro, suspiro, a falta de ar me impede de dormir, as letras das músicas conhecidas reverberam na minha cabeça, e a tua imagem ainda está aqui.

Te vi duas vezes. Três. Em todas, você tinha um ar alheio, quase infantil, quase idiota.

Te vi três vezes. Na terceira, minha boca se lançou a tua de forma incontrolável; eu não queria parar de afagar os teus cabelos, ainda que eles tivessem pequenos nós nas pontas, cabelo maltratado de homem, de menino desleixado.

Eu não queria parar. E, adivinha, eu não quero parar.

Na madrugada dos beijos intermináveis, teu ar continuava quase infantil, quase idiota, curioso, enquanto tua mão teimava em repousar no osso do meu quadril.

E eu tentava descobrir o teu cheiro e chegar mais perto, encontrar um lugar entre os pêlos, na aspereza da tua barba crescida.

Te vi três vezes. Quatro, que seja. Foi o suficiente.

A tua imagem ainda está aqui.

Mais um dia sem tempo

Não consigo encontrar nada que preciso no meio dessa bagunça toda. Já vesti jeans e blusa branca pra descomplicar, mas meu all star tá perdido, meus brincos também, meu cabelo tá de maluco e ainda tô sem comer desde que acordei. Pelo menos tem toddynho, sem essa caixinha eu nem levanto da cama.
Preciso passar na faculdade e devolver um livro com atraso. Vou à biblioteca que fica lá no terceiro andar, pego o papelzinho da multa de um real, desço, pago a multa na tesouraria que fica no primeiro, subo de novo pro terceiro e peço pra pegar o mesmo livro que devolvi por que ainda não consegui ler.
Aí vou correndo lá no restaurante a quilo almoçar com meu pai. Eu só tenho dez minutos pra comer, sei que não vai dar tempo de ter aquela conversa sobre estágio que ele tá querendo desde que arrumei um emprego em loja. E não vai dar tempo justamente por que preciso trabalhar. Pois é. Deixa eu ir então né.
Qualquer mocinha de vinte e poucos anos de aparência apresentável poderia estar no meu lugar, esse é o perfil. Só isso já faz com que eu queira fugir de lá correndo, voando! Mas eu sou a que tira leite de pedra, super poderosa, como diz a minha gerente. E passo o dia montando minha rede de passado-presente-futuro numa combinação perfeita de sucesso.
O cansaço bate, forte como as marteladas de hoje de manhã na obra da minha cozinha, que aliás, não é mais minha. É do vizinho aqui do lado que comprou meu apartamento pra fazer um duplex pra ele. E já que ainda não arranjei outro canto pra morar, ele começou a reforma comigo aqui dentro mesmo.
Êta vida.
São dez da noite, ainda preciso estudar. E é claro que durmo em cima do livro, com os pés pro alto pra evitar varizes.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Sessão da tarde.

Aumenta mais o som, porque minha cabeça grita. Vamos abafar o gemido rouco da unha que arranha o mesmo ego do seco daquilo que eu já nem sei mais se quero - que inconveniência a minha. Eu ando pra frente, e tudo atrás faz um coro imenso e sem sentido, entoando cânticos alienígenas. Falam em esperanto, e não há fé no consumo de dores amenas e socos de seda. Cansei de penar por conseguir o que desejo, é meu castigo, um ombro, um vento, um estrondo que me esmaga esses ossos de giz. Sussurra um arrepio leve no meu ouvido, ou então me dá golpes de faca no oco entre meu estômago e fígado, qualquer coisa assim, que dê conforto. Dor que distrai da dor é uma forma de alívio. Faça o que for coerente com o que te afeta, mas compreenda a minha angústia ao ver vírgulas nos teus modos, e ao constatar que nada no mundo supera a tua mão nos meus quadris.

Eu grito por dentro, mas abafo todo o bom do fato. Eu não sei expelir meus amores, eles vão me corroendo, me debilitando, me adoecendo...


P.s.: Esse texto eu já publiquei há seis meses atrás, mas o conteúdo é tão atual, que resolvi colocar aqui. A vida também tem suas reprises...

Já é tarde

Eu sonhei com você e com aquela vez que a gente viajou pra casa da sua avó.
Eu sonhei que você dormia no outro quarto e nessa noite eu sabia que tinha sempre tido pavor todas as noites, medo de ir até onde você dormia e eu tinha que dar um jeito... pôr um fim... durante o dia havia uma promessa nos seus olhos que você viesse até o meu quarto...
Eu não me segurava mais de amor por você e se eunão deixasse você ir no meu quarto, nooutro dia tu ia rir de mim, por eu ser covarde.
Havia tão pouco tempo pro mundo.
Nós estávamos todos um pouco arrasados por não estarmos no Rio de Janeiro.
E a gente queria fugir da casa da sua avó, e eu não sei pra onde é que todos nós iriamos quando saissemos daquele lugar.
Aquela cidade que era parecida com Natal
Me falam que tu mudou pra Bahia com sua esposa quando você se casou.
Eu acho que você pensou em mim quando se casou. Que passou a noite acordado pensando em mim.
E agora, no seu quarto, com seu filho é nas minhas roupas que você pensa.
Eu acho.
você se lembra que na casa da sua avó, ela ficava rondando a casa de noite?
E eu pensava que se eu fosse até o seu quarto, essa velha está tão velhinha e tudo seria tão absurdo que la nem poderia desconfiar.
Eu sou a amiga do neto dela, uma menina boa...
E ela estava lá, tomando conta da gente e do meu irmão que dormia no mesmo quarto que você.
Meu amor
Ela estava tomando conta da casa
Ela bem que podia já estar dormindo, assim eu iria até o seu quarto...
você havia de querer que eu fosse
você havia de me querer pra alguma coisa
Durante o dia você ficava conversando comigo e com meu irmão e você dizia aquelas coisas violentas de quem está louco pra dormir comigo e o sol machucava meu olho e a genet tava morrendo de vontade de estar no Rio de Janeiro.
Porque estavamso todos em Natal
E você falava bonito e eu sou bonitinha.
Eu precisava te arrancar algo, eu fazia charme porque você tinha que olhar pra mim e todo mundo te olhava e te achava lindo, mas ninguém precisava de você tanto quanto eu. Eu precisava disso urgentemente...
É que você me olhava agressivo e eu achava que você ria cruel pra mim mas eu não via minha própria cara debochada pra você

sábado, 10 de novembro de 2007

Sin perder la ternura.

É isso, nem devia estar te dizendo isso, não te devo explicações. Mas, sei lá, vc é uma das minhas melhores amigas e queria que vc soubesse. Sei que vc se preocupa, mas acredite, não tem grandes chances de eu sair machucada.
(E você, acredita?)

Se eu não fizer isso, vou ficar batendo a minha cabeça na parede, tem coisas que a gente não sente vontade de controlar e eu sei que vc sabe disso.


Queria poder pedir a ela que não fosse tão igual a mim, porque eu sei no que implica essa impulsividade, essa quase que impossibilidade de controlar o que pulsa, grita, transborda por entre poros, suor, lágrimas e “afins”. Queria que ela soubesse cortar o mal pela raiz, antes que ele tomasse conta de tudo, entrasse na casa dela, opinasse sobre o jantar e depois largasse ela sozinha, com o estrago feito. Que ela pudesse se prevenir contra o pior, porque em determinadas situações o certo é simplesmente não se deixar engolir, sumir, perder o poder sobre si mesmo, se é que isso existe – somos soberanos de nós mesmos? Eu não sei. Pelo menos eu estou mais pra slave of sensation.

Há sempre um ponto onde você pode pular fora, não? Abortar. Pausar. Dar o stop, que é mais definitivo, mas não. Ela não faz isso. E usa as minhas fraquezas como argumento de defesa, enquanto deveria usá-las como exemplo do que NÃO fazer. Cai fora, não vai ser bom pra você. Não pague pra ver o que você sabe que não vai gostar de saber, não faz sentido. Não vá pelo caminho mais difícil. E não me venha com esse papo de que é tudo de propósito, que você sabe o que está fazendo, que são “os pingos dos is”- justamente por ter a mesma natureza que eu, você sabe muito bem que isso é a desculpa mais esfarrapada de todas, pra disfarçar um impulso completamente sem sentido.

...

A diferença entre nós é que eu não ligo se vou pagar o preço pelas merdas que faço, porque são elas que me fazem poder dizer que NUNCA deixei nada pendente, que sempre fiz TUDO aquilo que quis, e o que não fiz, foi porque não tive vontade. Em compensação, olha bem pra mim, e pensa no que eu já fui: você vai compreender a dimensão do dano. E eu tenho medo por ela, não quero que ela se machuque de novo, e mais uma vez. Me dói pensar que ela pode endurecer, deixar de acreditar nas coisas, porque a doçura é a coisa mais bonita que ela tem. Isso é crescer?

Bom, nem quero mais pensar sobre o assunto. Já que eu não posso trancá-la em casa... Boa sorte.

pelo direito de ser piegas, sempre...

Eu quero engolir o mundo, bem forte, e quero engolir você. Sem parar para pensar em nada, sem pedir licença. Vou abrir os braços em volta do teu corpo e te puxar para mim, rápido, te roubar e esconder, para que a tua reação não atrapalhe meus planos.

Quero te mastigar devagar, fixando todos os gostos na minha memória. Você cheira bem, eu tinha certeza. Eu sabia que teu coração batia rápido assim, e que teu corpo iria reagir de imediato, tremer, ondular, as bocas e pernas se arrastando no sobressalto de sentir o que o outro sente. Eu sabia que irias sorrir depois, quando eu misturasse amor e bobagens nos teus ouvidos. Não me importo quando as palavras saem aos borbotões, gaguejadas, sem sentido, honestas acima de tudo.

Vou repetir até que você entenda. Te prometo o mundo, gramados verdes, música, dança, o absurdo da vida, o céu avermelhado do fim de tarde, o lado bom da rotina, abraços para espantar o frio, partilhar uma bacia de pipoca, a lua, a chuva refletindo no asfalto. Prometo o futuro e pequenas cópias da gente fuçando nos discos do Iron e do New Order.
Junto, eu sei, virá o peso, o egoísmo e as dúvidas, minutos de isolamento, escuridão, pequenas dores e conflitos que não posso evitar. Mas farei com que você nem os perceba, impedirei que te machuquem, que firam teus ombros, porque é neles que gosto de cair no sono, ouvindo somente a tua respiração.

Quero passar os dentes devagar na tua pele, para marcá-la. Não vai doer, juro, mesmo se sangrar. Falo isso com o mais inocente dos sorrisos, o mesmo que vejo estampado no teu rosto. É o sorriso que também estará no meu, quando conseguir, afinal, engolir o mundo. E engolir você.


quarta-feira, 7 de novembro de 2007

O texto da Denise

ó, tempão atrás eu prometi pra Denise q eu ia escrever um conto pra ela, na época era inspirado na vida dela né ( mais ou menos). Mas aí eu enrolei tanto com ele que a vida dela já mudou e eu ainda não terminei o canto, mas vou terminar um dia...
Bem, ela escolheu um trecho que ela acha lindo, divino e maravilhoso, pra minha estréia aqui....
O conto não tem nome ainda e é na verdade mais uma estória com a Manu.
Eu criei a Manu ano passado e ela é tipo o meu personagem eterno, como o Mandrake do Rubem Fonseca e o Analista de Bagé do Luiz Fernando Verissimo.
Manu usa uma camista branca com o Mickey Mouse estampado e um par de sapatos vermelhos. O primeiro conto com a Manu é passado no Nordeste, o segundo no Rio de Janeiro.
Nessa estória Manu está em Campinas, Denise é uma advogada que resolver defender a Manu e acaba indo morar com ela e eles tem um caso.. e o fim ainda vem.....

Abram alas por trecho aí minha gente:

"N restaurante Marcela falava sem parar. Ela sempre falou muito e eu gostava de escuta-la. mas eu naquela hora eu não ouvia nada, pensava no homem que iria encontrar em casa e na última vez que havíamos conversado.
"Em que cê tá pensando Denise?"
"Lembrando de ontem, festa da família do Rubem, eles não devem gostar de mim sabe? Eu sinto que todo mundo me olha atravessado.
"Não conversam?"
"Pouco. Muito pouco na verdade, mas não é isso que me incomoda. Essas pessoas nunca dizem nada: são pobres e caladas. Parece que eles acham que eu não presto ou que faço pouco pelo Rubem.
"Eu acho que você tem é vergonha deles, porque você está comigo e está com Rubem. Tem medo de todo mundo ficar sabendo. Você acha que tá fazendo coisa errada."
"Não. eu te adoro."
"Eu não queria que você tivesse casado. Não precisava. Podia ficar namorando, podia ir morar com ele ou então que esquentasse os colchões de todos os homens de São Paulo. Mas por que é que você foi casar?"
"Já faz quase um ano que a gente tem essa mesma conversa, eu quero ter uma família quero ter filhos e quero que eles tenham pai e mãe ."
"Eu já estou vendo, você vai grávida, vai ter sua família com seu marido imbecil e aí o bebê vai nascer e vai roubar todo o seu tempo de ficar comigo."
Olhei pela enorme janela de vidro. Talvez Marcela estivesse certa, talvez eu tinha mesmo medo das coisas, vai ver eu não devia nem ter casado. Mas vergonha dela eu não tinha não, só que ela não via que eu amava Rubem tanto quanto a amava e tinha meus planos. De repente percebo Manuela passando pela janela, aperto os olhos para me certificar. É ela mesmo. A menina pára na calçada e olha para o alto, Acompanhei seu olhar: ela olhou diretamente para o sol e ficou esfregando os olhos. Era uma pessoa mesmo estranha. Um garoto parecendo agoniado parou para conversar com ela. Ele alisava a roupa, enfiava e tirava as mãos nos bolsos constantemente. Atravessaram a rua e sumiram por uma porta espremida entre as lojas.
"A minha cliente. É aquela menina."
"Não parece que tem esse perigo todo que falam nos jornais."
"É estranho né? tem quinze anos só, fugiu de casa e foi só pra passar aventuras.
"Taí, e você ainda quer ter filho. Quer dizer, imagina o estado que deve estar a mãe dela. Dá até dó"
"Dói meu coração só de pensar."
Minha cabeça batucava, eu decidi que se conseguisse livrar Manuela, eu ia arrumar minha vida, dar um pé no M.P e trocar de escritório.
M. P. trabalhou muito tempo com minha família e quando me formei ele achou por bem fazer por mim o que meu pai tinha feito por ele. Mas ele é ganancioso demais e o máximo que me fez foi me meter no serviço público e mandar alguns casos bem chinfrins. Normalmente eu resolvia os problemas dele e ele levava os créditos e a grana. Era justo. Pra ele. "

terça-feira, 6 de novembro de 2007

F.E.A.R

Medo:

do Lat. metu

s. m.,
terror;
receio;
susto.

loc. adv.,
a -: com receio.

Aos dez anos, eu vivia com medo de andar na rua e ser atropelada. Ou de que cocô de pombo caísse na minha cabeça ao passar debaixo dos jambeiros do colégio onde estudava. Aos 12, temia reprovar nas provas de matemática, e aos 16, tinha medo de perder meu primeiro namorado. Aos 20, de não arrumar emprego. Atualmente, aos 25, bate as vezes um certo receio de nunca ter filhos.
O atropelamento, ufa!, não veio, mas o cocô caiu de forma certeira, duas vezes, uma em cada braço, em dias próximos do final de 1992. Na sexta série, fiquei de prova final em matemática, e não reprovei sabe-se lá por quê. Logo ao completar 17, meu primeiro namorado admitiu que andava com outras garotas porque morávamos em cidades distantes e ele não sentia mais minha falta. Passei longos períodos sem emprego, que foram, vieram, mas nunca foram tão graves. E os filhos, bem... prefiro acreditar que um dia eles virão, ainda que isso demore um certo tempo.
Moral da história? Medo não protege, nem afaga. Medo é uma sensação falsa de segurança, de controle da própria vida, que a gente nem tem. Medo só paralisa e impede de olhar para os lados. Impossível de não sentir, mas possível de desviar. Portanto, eu desviarei do medo antes que ele me consuma por todos os poros. E antes que ele me impeça de correr dos meus próprios sonhos, me prendendo pelos calcanhares e me trancando na gaveta da rotina.

Eu devo isso só a mim mesma, a mais ninguém. Três vivas para o umbiguismo.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Menina eu

Grande pequena menina, na casa dos vinte e poucos, com seus pés pequenos e grandes aspirações.
Menina grande em seus sonhos, suas vontades de mudar o mundo como quem nunca deixou de ter esperança.
Menina forte que absorve as dores de todos para simplesmente não sofrer vendo penar no olhar de quem bem quer.
Menina pequena que cresce sentindo a angustia de quem não quer ver o tempo passar.
Menina feliz que canta e dança dirigindo, que sorri com lembranças e gargalha com os amigos.
Menina triste que esconde os olhos vermelhos de lágrimas por trás das lentes escuras dos óculos de sol.
Menina de fé que pede a Deus por todos aqueles que ama e que agradece a cada manhã por acordar e a cada noite por dormir.
Menina boa, que sabe oferecer doçura, amor e carinho a quem precisa.
Menina má que sabe oferecer ódio e rancor, grosseria e palavras fortes quando ignorados seus sentimentos.

E ela é algo entre a freira e a puta, a mãe e a criança, a santa e a pecadora. Ela é a inocência e a culpa. Pode ser sua defesa ou promotoria, a doçura ou a estupidez encarnada. Ela é o egoísmo e a devoção. Ela é tudo e é nada, qualquer coisa menos um meio termo. Pode ser seu céu ou seu inferno, ser um demônio ou seu anjo na terra. Pode te amar ou odiar, em um piscar de olhos, com uma intensidade nuclear. E tudo depende unicamente dos olhos de quem vê, das atitudes de quem faz e do coração de quem sente.

domingo, 28 de outubro de 2007

Monkey Ménage

Verdade seja dita: até um chimpanzé com halteres tem mais força de vontade do que eu.


Talvez pelo fato de eu ser duas, e toda vez que vou ser indulgente com uma, a outra acaba se fodendo. Por que eu sempre me rendo justamente aos desejos daquela que, querendo absurdos, contraria as minhas necessidades? Eu me saboto, apoio uma caixa de madeira num graveto, coloco um chocolate de armadilha e tento pegá-lo, ao mesmo tempo em que a outra, que também sou eu, puxa a cordinha. Engordo, me machuco e ainda fico rindo da minha cara. Um pica-pau esquizofrênico. “Vodu é pra jacu”.


Ruth e Raquel, Jeckyll and Hyde e, pra ser mais atual, Taís e Paula. Tanto faz. Não é uma boa e uma má, é uma que tenta andar na linha, enquanto a outra enche a cara e nem consegue fazer o quatro. Sim, porque qualquer gorila de salto alto tem mais equilíbrio emocional do que eu. Ou eus, sei lá. Obrigada por ter por mim a prudência que eu não sou capaz de manter. Você é o meu melhor inimigo. Ou o meu pior amigo, vai saber.


Veja só: comecei falando com os leitores, e acabei me dirigindo a uma pessoa só. É, você aí. Eu não te amo, não. O que acorre é que uma sente uma atração absurda por aquilo que não pode fazer, como uma adolescente rebelde. A outra, por sua vez, tenta te decifrar, te entender, e acaba se envolvendo enquanto persiste nesse mistério sem solução. É como uma trama noir. Eu sou o detetive de chapéu, e acabo, estupidamente, fazendo tudo pela minha bela femme fatale. No fim, me estrepo duas vezes, adolescente e policial. Não há nenhuma grande novidade nisso - sempre fiz tudo dobrado, em excesso, além da conta. Inclusive gostar de você, mesmo que você carregue dois carimbos de PERIGO na testa, com direito a caveirinha e tudo.


No fim das contas, convenhamos: qualquer bonobo no cio é menos indecente do que as coisas que rolam entre nós (três).

domingo, 21 de outubro de 2007

i just wanna be cafona!

Eu não sei de você, mas eu não consigo ser cool, sequer tentar, desde que a paixão bateu a porta.
Deixei de me esforçar para manter o charme blasé quando me dei conta que ela, a paixão, transformou-se em amor. Nem vi quando ela mudou-se aqui pra casa, passou a comer direto da panela e a tomar banho de porta aberta.
Pouco importa o corte correto dos meus jeans, a tinta cara no cabelo, a curiosidade em descobrir bandas boas antes de todo mundo (quer coisa mais cool que ouvir uma banda indie das Ilhas Cook?), ou a coleção de dvds do Bergman. Meu amor me pintou de vermelho-Almodóvar. Não é Cosmopolitan, é vodca Natasha, direto da prateleira do Carrefour para a minha mão por módicos R$ 8,99. Misturada com sprite e um pouco de sal, para piorar o que já era ruim.
Eu não sei de você, mas o meu amor não é Beth Orton. Death Cab for Cutie? Nem pensar!
Meu amor é Bethânia, chorado, rasgado, vibrante, com cores que brilham demais e doem na vista. Treme como a voz dela, e como eu, por inteiro, ao simples abrir de olhos para encarar você. Ao sentir o gelado da tua pele encostada na minha, logo depois de sair do banho, ou como os beijos que me viram de ponta-cabeça.
Chega de procurar explicações ou justificativas, nas letras do disco novo do Radiohead, no cinema ou na literatura médica. Nem na Bíblia, porque não tem jeito. Nos tempos antigos, creio que as paixões eram bem mais low profile...
Meu amor é cafona, desajeitado como andar de patins na sala dos cristais. Meu amor me dá raiva, dá vergonha, vontade de enterrá-lo a sete palmos, junto com as fotos da adolescência (como é que eu usava aquele cabelo?!). Mas meu amor me diverte. Me completa, me enche de orgulho por carregar tamanha coisa boa, coisas que eu me achava incapaz de sentir. E me faz querer, loucamente, que ele nunca termine.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Demorô

Tô chegando junto, assim, no final da fila, que é para esconder a timidez que me faz corar as bochechas e o nervosismo que eu disfarço sorrindo. Daqui eu tento me ocultar e secretamente faço de tudo para aparecer, na esperança de quem sabe, despertar a simpatia de quem lê. Junto com essas meninas-talento eu me articulo por último que é pra já mostrar pra todo mundo que sou assumidamente enrolada, mas ah, não me leve a mal, vai. A minha demora pode compensar. É tão bom se identificar...
Da confusão da Talita eu me acho com facilidade. Do tumulto da Gi eu também procuro a liberdade. Da doçura da Lu eu faço minha própria viagem. (Rimei). E lendo a Sarah eu penso: Quanto tempo tem que eu também não escrevo com emoção e sem pressão? Nem eu sei. E é por isso que colocar aqui toda a falta de carinho que vem faltando é um prazer. Tô tirando o prefixo e transformando o descrito no escrito. Então aproveita o momento e chega aê, vem trocar uma idéia com a gente. Eu já disse, se identificar é bom né?!

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

'And i feel like i just got home...'

Nos últimos três anos, foram poucas vezes em que sentei diante do computador, ou de uma folha em branco, para sentir. Para descobrir. Resgatar. Por força do trabalho, da maior-desculpa-esfarrapada-de-todas (a falta de tempo), ou da pura preguiça, eu peguei o caminho mais rápido, e me limitei a descrever.
Descrever pessoas, ocasiões, eventos, ou mesmo a morte de alguém. Num dia mais calmo, a descrever como me sentia, de forma superficial. As palavras que eu usei nessas ocasiões não saíram do coração, ou dos pulsos, nem direto do sangue, que é de onde, creio eu, elas devem vir. Vieram de algum canto perdido na cabeça, sem emoção, nem muito capricho. Chegaram prontas, como um lanche do McDonalds. Basta pedir o número e, lá vem, uma matéria prontinha sobre as estatísticas de alunos repetentes, ou sobre as más condições de conservação das praças do centro da cidade. As palavras foram para o papel mornas, bastava um ventinho para que esfriassem de vez.
Agora, convidada a participar destes Melindres, olho para a tela vazia do Word, olho no espelho, olho para mim. Conto as estrelas tatuadas no meu pé direito. Troco a música a cada minuto. O pulso anda no ritmo normal, mas nenhuma palavra vem. Se eu cortar, o sangue vai sair, embora não seja garantia de que uma idéia virá junto. Nenhuma mostra de sensibilidade, de raiva, de fé, ou de puro descontentamento. Me sinto vazia de palavras, de assuntos, sem nada para partilhar, nem mesmo uma mentirinha boa que poderia render algumas linhas. Nada!
Será que isso acontece com todo mundo que arruma um emprego em que precise, invariavelmente, escrever? Será que eu nunca soube me expressar encostando os dedos nervosamente nesse teclado, e agora a fonte secou de vez? Me dediquei tanto a aprender as fórmulas, os métodos (‘pirâmide invertida’, bleargh!), a saber onde colocar os números e depoimentos, que esqueci daquela boa e velha vontade de escrever? Aquela, que ataca na hora em que desejo explodir o mundo, abraçar todas as pessoas que passam na frente, ou quando vejo a chuva bater nas samambaias? Ela se retraiu, passou a ser um mero impulso, que de tão rápido, já foi?
Posso estar errada por achar que escrever deve vir do sangue, do suor, do carinho nas costas que te arrepia o corpo todo, de cinco minutos de alegria, ou até da amargura que a gente detesta, mas sente. E posso estar errada por querer continuar a sentir isso, a escrever assim. Colocar as palavras aqui não é só um ato de descrever, e sim de sentir. Sentir alívio depois de vomitar centenas de frases que podem nem fazer sentido para ninguém, mas que para você valem mais que uma oração, ou uma sessão de terapia. Sentir a folha se pintar de preto, a letra torta, os rabiscos, mil exclamações, uma eventual lágrima que caia no papel. Sentir, tocar, resgatar o vermelho quando a sua vida parece ter entrado numa fase cinza-tons-pastéis sem fim. Descobrir que o coração ainda bate, mesmo que eu tente, de todas as formas, fazê-lo parar.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

O firmamento.

O fundo é de um azul claro intenso, quase uma representação inanimada do céu. As pequenas marcas brancas habitantes desta imensidão azulada brincam de formar desenhos não facilmente identificados e discretamente bem posicionados. As manchas verdes, por vezes tão extensas quanto pontuais, espalham-se sobre este paraíso diferenciado como um pincel banhado de tinta esparrama sua cor no papel. No meio de toda essa relva, surgem borrões de tom marrom os quais transformam estes simples traços em verdadeiros pontos de encontro. Letras firmes e fortes despontam em torno destes traçados, batizando-os. O alfabeto inteiro encontra-se exposto, numa espécie de Guerra Fria pela atenção. Suas cores variam de acordo com o espaço, assim como seus tamanhos. Aos poucos as linhas vão erguendo-se, tomando forma. O que parecia plano agora vê-se esférico, redondo. Há uma base embaixo, comportando tal estrutura ao mesmo tempo tão perto e tão distante. Pequenas linhas dividem extrema pobreza de abundante riqueza. Oceanos diferenciando línguas, costumes, regras. A mão se aproxima. Os dedos tocam levemente um mundo globalizado que existe ao seu alcance. Uma utopia palpável. Uma realidade intocável. Todo o universo gira. E tudo começa outra vez.

domingo, 14 de outubro de 2007

Eu atropelo duendes

Levantava depois de muitos toques do despertador. Arrastava-se até o banheiro. Lavava o rosto com o sabonete que removia oleosidade esperando que lhe levasse também o mau humor matinal. Escovava os dentes e gargarejava, livrando-se do hálito azedo amanhecido. Em outros tempos acenderia um cigarro em seqüência, abriria a geladeira e faria de uma coca cola livre de calorias sua primeira refeição enquanto passava um café para decretar de vez a falência de seu estômago. Mas hoje não. Há mais de três meses não fumava, como também evitava refrigerantes matinais, o café continuava o principal amigo e companheiro, mas era acompanhado sempre de um pão na chapa comido em alguma padaria no trajeto casatrabalho. Além disso, ao invés de dedicar suas noites a TV, computadores ou livros tinha começado a correr, não correr contra o relógio como havia feito a vida inteira, mas correr. Liberava endorfinas no organismo, deixar sair pela pele, como suor todos os problemas e angústias, todas as preocupações. Culpa das endorfinas ou não, andava mais feliz. Exceto por aqueles momentos repetidos todas as manhãs.

Não era o acordar cedo que aborrecia, nem o trabalhar, mas a simples constatação feita em uma mesa de bar por um amigo próximo: Passava três horas, quando não mais, dos seus dias úteis em engarrafamentos. Nas 21 que sobravam, dividia entre sono, alimentação, banhos, trabalho, estudos, malhar, jogar bola, supermercado, pagar contas, depilação, unha, cabelo e beijo na boca e sexo (ou não), lógico. Não há música que faça relaxar, nem a detestável rádio, nem Jazz, nem Blues, nem Pearl Jam, nem Pink Floyd. Nem música de Yoga faz com que se fique mais zen. Não há distração e nem borboletas que acalmem a alma. Não há mais como rir do que as outras pessoas fazem em seus carros enquanto o trânsito está parado como nos velhos tempos. Só há estresse e tensão. Só há a vontade de atirar no pé de quem o carro quebra e causa engarrafamento, por mais que eu sabia que a pessoa é isenta de qualquer culpa.

A loucura chega a um ponto em que desligar o ar condicionado, correr risco de assaltos e abaixar os vidros se torna uma opção. Masoquismo de quem quer sofrer com o calor e o barulho da cidade grande? Não. Apenas um desejo de se tornar menos solitário, dividir o ambiente de desespero com os outros personagens do drama diário que é a vida nas grandes cidades.

sábado, 13 de outubro de 2007

Achismos.

Defenda a sua essência e aproveite a sua refeição, porque tudo o que você pode fazer nesse espaço de tempo e pedaço de espaço que se chama vida é ser aquilo que as suas células determinaram.

Você pode comprar tudo que quiser e ter toda a educação que a grana dos seus pais permitiu, mas nada se altera. Não opte, apenas esteja, porque toda escolha implica numa negação. Diga sim e sorria com um cigarro apagado entre os dentes.

Respire. Inale. Exista com todos os seus sentidos, e uns dois ou três mais. Faça sexo com amor e arranhões profundos, e beije delicadamente aquilo que você quer bem – seja lá o que for, de que gênero for, de que espécie for. As minúcias são imensas quando o apetite é grande, e carícia que é carícia pede o tempo que pede, oras.

Peça. Implore. Lamba os pés e todo o resto. Sofra, chore, se rasgue e sinta o que eu sou, esse misto de contrastes, chame de alma, de genética, do que lhe convier, do que melhor lhe couber. Porque eu só caibo em mim.

Então me observe. Eu não quero te dizer nada, nem me dizer nada, mas quem sabe algo faça sentido pra você? As palavras só saem, bem como eu sou, sem reparos, sem ordem lógica, porque a única razão que existe é a que não pertence a ninguém. De repente essa teoria do absurdo te induz hoje a ouvir isso, quem sabe sempre? Quem sabe se, ao me entender, você não vá se encontrar? Somos todos feitos da mesma matéria.

Senta aí agora, come e me escuta. Você pode gostar.