sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Inércia

Não me conforta fazer o que você faz comigo a um terceiro, mas parece que os seus conflitos são contagiosos. Sua covardia nega, e sua inércia pega, mas enquanto você fica aí parado eu não paro nunca, continuo em movimento constante, não cesso, não desisto de procurar por aí o que sei que só vou encontrar em você. Não me pergunte o porquê, jamais fui boa em Física, você deve saber melhor do que eu, já que me encontro nessa situação pelas suas razões. O seu lugar sempre foi o meu motivo, mesmo antes de sabê-lo.

Não é irônico isso de alguém que não sai do lugar atrair os mesmos problemas de uma pessoa que não pára quieta? Você atrai e afasta, eu procuro e desvio, e assim deixamos um mesmo mar de frustração à nossa volta. Somos o avesso um do outro. Você lembra do meu gosto? Porque eu aposto que você gosta. Mas você nunca vai sair daí. Então vou experimentando diferentes sabores e me deixando degustar, enquanto te assisto corroer o que resta de doce no teu próprio corpo - desperdício duplo.

A gente segue se acabando, virando pó de propósito, queimando quem se aproxima porque estamos no caminho errado, eu atropelando tudo, você parado na estrada, fazendo os outros tropeçarem. Pode dizer que não... A gente se nega mesmo tudo o tempo todo, salvo quando eu acabo voltando pro meu ponto de partida, pra tropeçar de novo em ti. E apesar dos pesares, fico querendo andar em círculos, e desconfio que seja esse o seu desejo também, só pra gente se esbarrar de novo, pra se machucar de novo e se afastar mais uma vez, incessantemente.

Esse texto tem um ano e meio e, felizmente, nem faz mais sentido.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

/ignore!

Me manda um bom dia. Uma palavra, um alô. Um abraço, um fio de cabelo, uma mensagem no telefone, um pouco de ti. Manda para mim os cinco segundos que o teu braço tocou no meu, o jeito que você inclina a cabeça quando fala com alguém, os teus olhos, sempre parecendo perdidos num local inacessível. Manda um sorriso, para que eu possa lembrar de como você é quando ri, porque eu quero paz, e não essa pressa que fica a espreita por todo lugar que eu passo, o tempo que me assusta, rugindo pesado nos meus calcanhares. Manda o teu cheiro, as tuas músicas favoritas, os livros que você nunca leu, os filmes que detestas. Me dá uma tela em branco, ou, melhor, seja a minha tela, limpa, nova em folha. Vou transformar as tuas costas nas páginas que vão receber as poesias que nunca tive coragem de te entregar, e os teus braços e pernas darão espaço aos desenhos que te fiz, os que tu nunca vais ver, porque eles têm cores e formas se confundindo, se atropelando, exatamente como eu, que vivo tropeçando na minha própria ansiedade. Me empresta a tua boca, para que ela treine, junto com a minha, as palavras que não consigo te dizer. Ou então me dá algo para me deixar na expectativa de que vou, logo, perder o senso e tornar minha voz maior que o medo de você não me reconhecer quando eu te disser quem eu sou.
Possivelmente, aquela que vai jogar o papel onde escreveu tudo isso fora, achando um devaneio causado pela falta de sono.
Ou, quem sabe?, o teu próximo e mais improvável amor.