domingo, 2 de dezembro de 2007

Focando em Virgínia.

Ela me diz que eu deveria ter mais autoconfiança. Não vejo sentido algum nisso– de que me adianta crer em algo que a minha razão me explica que não funciona? É como acreditar que sou capaz de voar, e me atirar do sétimo andar no meio do expediente, assim, pra dar uma refrescada: é loucura. Como ela, eu vejo tantos ingênuos acreditando que é só mudar a cabeça, e não o mundo – já viu o quanto se vendem livros sobre auto-estima, autocontrole, autoqualquercoisa? Acho meio cômodo, mas eu não teria uma idéia melhor, também. Uma das poucas coisas que acho que sei dessa vida bizarra é que a verdade é só uma questão de ponto de vista. O ser humano é movido pela interpretação que ele mesmo faz das coisas das quais toma conhecimento: o que eu não sei, não existe. Algum grego dizia algo parecido, não lembro qual. Então, se a crença é um dos únicos poderes que temos, nada mais justo do que aprender a acreditar no que se quer. Acho justo.

Enquanto ela falava, lembrei da gente. Cara, já não ligo de saber o que se passa na sua cabeça, não me interessa, porque, se fosse outra pessoa, era capaz dela me dizer e eu não acreditar. O meu mentirômetro nunca funcionou muito bem, e acho que nem você sabe o que está acontecendo aí. Então, se é impossível saber a verdade do outro, que diferença faz? Por hora, portanto, nada é mais coerente do que o seu silêncio, e eu já não fico tentando adivinhar os seus pensamentos há muito tempo. Eu me torturava com isso, sabia? Agora já não ligo mais. Tenho andado em nuvens, e, visto que tudo é uma questão de interpretação, quem se importa com o sólido, com o estável? Eu sou fluida, e intensa, e me cabe nós leves assim, sem vínculos declarados. Você me faz bem. Eu achava que não daria certo nunca, que não tinha jeito, mas já estava dando e eu só percebo isso agora, um flash inoportuno de compreensão, já que ela está me falando sobre mudanças, como me comportar, como agir, e eu aqui, ingênua convertida há dois segundos, pensando em você de novo. Vou me concentrar nela. Penso em você mais tarde, naturalmente.