quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Menina eu

Grande pequena menina, na casa dos vinte e poucos, com seus pés pequenos e grandes aspirações.
Menina grande em seus sonhos, suas vontades de mudar o mundo como quem nunca deixou de ter esperança.
Menina forte que absorve as dores de todos para simplesmente não sofrer vendo penar no olhar de quem bem quer.
Menina pequena que cresce sentindo a angustia de quem não quer ver o tempo passar.
Menina feliz que canta e dança dirigindo, que sorri com lembranças e gargalha com os amigos.
Menina triste que esconde os olhos vermelhos de lágrimas por trás das lentes escuras dos óculos de sol.
Menina de fé que pede a Deus por todos aqueles que ama e que agradece a cada manhã por acordar e a cada noite por dormir.
Menina boa, que sabe oferecer doçura, amor e carinho a quem precisa.
Menina má que sabe oferecer ódio e rancor, grosseria e palavras fortes quando ignorados seus sentimentos.

E ela é algo entre a freira e a puta, a mãe e a criança, a santa e a pecadora. Ela é a inocência e a culpa. Pode ser sua defesa ou promotoria, a doçura ou a estupidez encarnada. Ela é o egoísmo e a devoção. Ela é tudo e é nada, qualquer coisa menos um meio termo. Pode ser seu céu ou seu inferno, ser um demônio ou seu anjo na terra. Pode te amar ou odiar, em um piscar de olhos, com uma intensidade nuclear. E tudo depende unicamente dos olhos de quem vê, das atitudes de quem faz e do coração de quem sente.

domingo, 28 de outubro de 2007

Monkey Ménage

Verdade seja dita: até um chimpanzé com halteres tem mais força de vontade do que eu.


Talvez pelo fato de eu ser duas, e toda vez que vou ser indulgente com uma, a outra acaba se fodendo. Por que eu sempre me rendo justamente aos desejos daquela que, querendo absurdos, contraria as minhas necessidades? Eu me saboto, apoio uma caixa de madeira num graveto, coloco um chocolate de armadilha e tento pegá-lo, ao mesmo tempo em que a outra, que também sou eu, puxa a cordinha. Engordo, me machuco e ainda fico rindo da minha cara. Um pica-pau esquizofrênico. “Vodu é pra jacu”.


Ruth e Raquel, Jeckyll and Hyde e, pra ser mais atual, Taís e Paula. Tanto faz. Não é uma boa e uma má, é uma que tenta andar na linha, enquanto a outra enche a cara e nem consegue fazer o quatro. Sim, porque qualquer gorila de salto alto tem mais equilíbrio emocional do que eu. Ou eus, sei lá. Obrigada por ter por mim a prudência que eu não sou capaz de manter. Você é o meu melhor inimigo. Ou o meu pior amigo, vai saber.


Veja só: comecei falando com os leitores, e acabei me dirigindo a uma pessoa só. É, você aí. Eu não te amo, não. O que acorre é que uma sente uma atração absurda por aquilo que não pode fazer, como uma adolescente rebelde. A outra, por sua vez, tenta te decifrar, te entender, e acaba se envolvendo enquanto persiste nesse mistério sem solução. É como uma trama noir. Eu sou o detetive de chapéu, e acabo, estupidamente, fazendo tudo pela minha bela femme fatale. No fim, me estrepo duas vezes, adolescente e policial. Não há nenhuma grande novidade nisso - sempre fiz tudo dobrado, em excesso, além da conta. Inclusive gostar de você, mesmo que você carregue dois carimbos de PERIGO na testa, com direito a caveirinha e tudo.


No fim das contas, convenhamos: qualquer bonobo no cio é menos indecente do que as coisas que rolam entre nós (três).

domingo, 21 de outubro de 2007

i just wanna be cafona!

Eu não sei de você, mas eu não consigo ser cool, sequer tentar, desde que a paixão bateu a porta.
Deixei de me esforçar para manter o charme blasé quando me dei conta que ela, a paixão, transformou-se em amor. Nem vi quando ela mudou-se aqui pra casa, passou a comer direto da panela e a tomar banho de porta aberta.
Pouco importa o corte correto dos meus jeans, a tinta cara no cabelo, a curiosidade em descobrir bandas boas antes de todo mundo (quer coisa mais cool que ouvir uma banda indie das Ilhas Cook?), ou a coleção de dvds do Bergman. Meu amor me pintou de vermelho-Almodóvar. Não é Cosmopolitan, é vodca Natasha, direto da prateleira do Carrefour para a minha mão por módicos R$ 8,99. Misturada com sprite e um pouco de sal, para piorar o que já era ruim.
Eu não sei de você, mas o meu amor não é Beth Orton. Death Cab for Cutie? Nem pensar!
Meu amor é Bethânia, chorado, rasgado, vibrante, com cores que brilham demais e doem na vista. Treme como a voz dela, e como eu, por inteiro, ao simples abrir de olhos para encarar você. Ao sentir o gelado da tua pele encostada na minha, logo depois de sair do banho, ou como os beijos que me viram de ponta-cabeça.
Chega de procurar explicações ou justificativas, nas letras do disco novo do Radiohead, no cinema ou na literatura médica. Nem na Bíblia, porque não tem jeito. Nos tempos antigos, creio que as paixões eram bem mais low profile...
Meu amor é cafona, desajeitado como andar de patins na sala dos cristais. Meu amor me dá raiva, dá vergonha, vontade de enterrá-lo a sete palmos, junto com as fotos da adolescência (como é que eu usava aquele cabelo?!). Mas meu amor me diverte. Me completa, me enche de orgulho por carregar tamanha coisa boa, coisas que eu me achava incapaz de sentir. E me faz querer, loucamente, que ele nunca termine.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Demorô

Tô chegando junto, assim, no final da fila, que é para esconder a timidez que me faz corar as bochechas e o nervosismo que eu disfarço sorrindo. Daqui eu tento me ocultar e secretamente faço de tudo para aparecer, na esperança de quem sabe, despertar a simpatia de quem lê. Junto com essas meninas-talento eu me articulo por último que é pra já mostrar pra todo mundo que sou assumidamente enrolada, mas ah, não me leve a mal, vai. A minha demora pode compensar. É tão bom se identificar...
Da confusão da Talita eu me acho com facilidade. Do tumulto da Gi eu também procuro a liberdade. Da doçura da Lu eu faço minha própria viagem. (Rimei). E lendo a Sarah eu penso: Quanto tempo tem que eu também não escrevo com emoção e sem pressão? Nem eu sei. E é por isso que colocar aqui toda a falta de carinho que vem faltando é um prazer. Tô tirando o prefixo e transformando o descrito no escrito. Então aproveita o momento e chega aê, vem trocar uma idéia com a gente. Eu já disse, se identificar é bom né?!

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

'And i feel like i just got home...'

Nos últimos três anos, foram poucas vezes em que sentei diante do computador, ou de uma folha em branco, para sentir. Para descobrir. Resgatar. Por força do trabalho, da maior-desculpa-esfarrapada-de-todas (a falta de tempo), ou da pura preguiça, eu peguei o caminho mais rápido, e me limitei a descrever.
Descrever pessoas, ocasiões, eventos, ou mesmo a morte de alguém. Num dia mais calmo, a descrever como me sentia, de forma superficial. As palavras que eu usei nessas ocasiões não saíram do coração, ou dos pulsos, nem direto do sangue, que é de onde, creio eu, elas devem vir. Vieram de algum canto perdido na cabeça, sem emoção, nem muito capricho. Chegaram prontas, como um lanche do McDonalds. Basta pedir o número e, lá vem, uma matéria prontinha sobre as estatísticas de alunos repetentes, ou sobre as más condições de conservação das praças do centro da cidade. As palavras foram para o papel mornas, bastava um ventinho para que esfriassem de vez.
Agora, convidada a participar destes Melindres, olho para a tela vazia do Word, olho no espelho, olho para mim. Conto as estrelas tatuadas no meu pé direito. Troco a música a cada minuto. O pulso anda no ritmo normal, mas nenhuma palavra vem. Se eu cortar, o sangue vai sair, embora não seja garantia de que uma idéia virá junto. Nenhuma mostra de sensibilidade, de raiva, de fé, ou de puro descontentamento. Me sinto vazia de palavras, de assuntos, sem nada para partilhar, nem mesmo uma mentirinha boa que poderia render algumas linhas. Nada!
Será que isso acontece com todo mundo que arruma um emprego em que precise, invariavelmente, escrever? Será que eu nunca soube me expressar encostando os dedos nervosamente nesse teclado, e agora a fonte secou de vez? Me dediquei tanto a aprender as fórmulas, os métodos (‘pirâmide invertida’, bleargh!), a saber onde colocar os números e depoimentos, que esqueci daquela boa e velha vontade de escrever? Aquela, que ataca na hora em que desejo explodir o mundo, abraçar todas as pessoas que passam na frente, ou quando vejo a chuva bater nas samambaias? Ela se retraiu, passou a ser um mero impulso, que de tão rápido, já foi?
Posso estar errada por achar que escrever deve vir do sangue, do suor, do carinho nas costas que te arrepia o corpo todo, de cinco minutos de alegria, ou até da amargura que a gente detesta, mas sente. E posso estar errada por querer continuar a sentir isso, a escrever assim. Colocar as palavras aqui não é só um ato de descrever, e sim de sentir. Sentir alívio depois de vomitar centenas de frases que podem nem fazer sentido para ninguém, mas que para você valem mais que uma oração, ou uma sessão de terapia. Sentir a folha se pintar de preto, a letra torta, os rabiscos, mil exclamações, uma eventual lágrima que caia no papel. Sentir, tocar, resgatar o vermelho quando a sua vida parece ter entrado numa fase cinza-tons-pastéis sem fim. Descobrir que o coração ainda bate, mesmo que eu tente, de todas as formas, fazê-lo parar.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

O firmamento.

O fundo é de um azul claro intenso, quase uma representação inanimada do céu. As pequenas marcas brancas habitantes desta imensidão azulada brincam de formar desenhos não facilmente identificados e discretamente bem posicionados. As manchas verdes, por vezes tão extensas quanto pontuais, espalham-se sobre este paraíso diferenciado como um pincel banhado de tinta esparrama sua cor no papel. No meio de toda essa relva, surgem borrões de tom marrom os quais transformam estes simples traços em verdadeiros pontos de encontro. Letras firmes e fortes despontam em torno destes traçados, batizando-os. O alfabeto inteiro encontra-se exposto, numa espécie de Guerra Fria pela atenção. Suas cores variam de acordo com o espaço, assim como seus tamanhos. Aos poucos as linhas vão erguendo-se, tomando forma. O que parecia plano agora vê-se esférico, redondo. Há uma base embaixo, comportando tal estrutura ao mesmo tempo tão perto e tão distante. Pequenas linhas dividem extrema pobreza de abundante riqueza. Oceanos diferenciando línguas, costumes, regras. A mão se aproxima. Os dedos tocam levemente um mundo globalizado que existe ao seu alcance. Uma utopia palpável. Uma realidade intocável. Todo o universo gira. E tudo começa outra vez.

domingo, 14 de outubro de 2007

Eu atropelo duendes

Levantava depois de muitos toques do despertador. Arrastava-se até o banheiro. Lavava o rosto com o sabonete que removia oleosidade esperando que lhe levasse também o mau humor matinal. Escovava os dentes e gargarejava, livrando-se do hálito azedo amanhecido. Em outros tempos acenderia um cigarro em seqüência, abriria a geladeira e faria de uma coca cola livre de calorias sua primeira refeição enquanto passava um café para decretar de vez a falência de seu estômago. Mas hoje não. Há mais de três meses não fumava, como também evitava refrigerantes matinais, o café continuava o principal amigo e companheiro, mas era acompanhado sempre de um pão na chapa comido em alguma padaria no trajeto casatrabalho. Além disso, ao invés de dedicar suas noites a TV, computadores ou livros tinha começado a correr, não correr contra o relógio como havia feito a vida inteira, mas correr. Liberava endorfinas no organismo, deixar sair pela pele, como suor todos os problemas e angústias, todas as preocupações. Culpa das endorfinas ou não, andava mais feliz. Exceto por aqueles momentos repetidos todas as manhãs.

Não era o acordar cedo que aborrecia, nem o trabalhar, mas a simples constatação feita em uma mesa de bar por um amigo próximo: Passava três horas, quando não mais, dos seus dias úteis em engarrafamentos. Nas 21 que sobravam, dividia entre sono, alimentação, banhos, trabalho, estudos, malhar, jogar bola, supermercado, pagar contas, depilação, unha, cabelo e beijo na boca e sexo (ou não), lógico. Não há música que faça relaxar, nem a detestável rádio, nem Jazz, nem Blues, nem Pearl Jam, nem Pink Floyd. Nem música de Yoga faz com que se fique mais zen. Não há distração e nem borboletas que acalmem a alma. Não há mais como rir do que as outras pessoas fazem em seus carros enquanto o trânsito está parado como nos velhos tempos. Só há estresse e tensão. Só há a vontade de atirar no pé de quem o carro quebra e causa engarrafamento, por mais que eu sabia que a pessoa é isenta de qualquer culpa.

A loucura chega a um ponto em que desligar o ar condicionado, correr risco de assaltos e abaixar os vidros se torna uma opção. Masoquismo de quem quer sofrer com o calor e o barulho da cidade grande? Não. Apenas um desejo de se tornar menos solitário, dividir o ambiente de desespero com os outros personagens do drama diário que é a vida nas grandes cidades.

sábado, 13 de outubro de 2007

Achismos.

Defenda a sua essência e aproveite a sua refeição, porque tudo o que você pode fazer nesse espaço de tempo e pedaço de espaço que se chama vida é ser aquilo que as suas células determinaram.

Você pode comprar tudo que quiser e ter toda a educação que a grana dos seus pais permitiu, mas nada se altera. Não opte, apenas esteja, porque toda escolha implica numa negação. Diga sim e sorria com um cigarro apagado entre os dentes.

Respire. Inale. Exista com todos os seus sentidos, e uns dois ou três mais. Faça sexo com amor e arranhões profundos, e beije delicadamente aquilo que você quer bem – seja lá o que for, de que gênero for, de que espécie for. As minúcias são imensas quando o apetite é grande, e carícia que é carícia pede o tempo que pede, oras.

Peça. Implore. Lamba os pés e todo o resto. Sofra, chore, se rasgue e sinta o que eu sou, esse misto de contrastes, chame de alma, de genética, do que lhe convier, do que melhor lhe couber. Porque eu só caibo em mim.

Então me observe. Eu não quero te dizer nada, nem me dizer nada, mas quem sabe algo faça sentido pra você? As palavras só saem, bem como eu sou, sem reparos, sem ordem lógica, porque a única razão que existe é a que não pertence a ninguém. De repente essa teoria do absurdo te induz hoje a ouvir isso, quem sabe sempre? Quem sabe se, ao me entender, você não vá se encontrar? Somos todos feitos da mesma matéria.

Senta aí agora, come e me escuta. Você pode gostar.