segunda-feira, 11 de maio de 2009

follow me on Twitter...

Achei engraçado que uma garota que não conheço, mas "sigo" no Twitter, escreveu, meia hora atrás, que enquanto ela ouvia uma música X do Arcade Fire, "ele" ouvia a canção Y, da mesma banda.

Não pude evitar pensar a respeito da mensagem... talvez "ela" e "ele" estivessem juntos naquele momento, cada um em seu computador (lindos Macbooks; eles são tão antenados, cool, gostam só do que é bom!) trabalhando, matando o tempo, tomando chá, reclamando da vida, jogando cartas ou mesmo Mah-Jong. Digo Mah-Jong porque não imagino ninguém jogando Doom ao som de A.F., nem matutando estratégias para dominar o mundo no Civ com tamanha calmaria ao fundo. Os dois, namorados de longo tempo, sorriem, trocam um beijo, decidem ir dormir e deixam a música rolando, deitam na cama esfregando os pés e dizem boa noite.

Ou talvez o cara e a garota, depois de namorarem por séculos, estejam separados. Terminaram não faz um mês. O defunto nem esfriou. Ela anda triste, por saber que estão ouvindo a mesma banda, que ambos adoram, que marcou alguns momentos que ela considera especiais. Ele não se mudou do apartamento que eles ainda dividem e ela ouve as canções dele soando abafadas por trás da porta... tão próximos, tão distantes.

Quem sabe eles se conheçam, sejam amigos, mas nunca tenham namorado. Tenham uma dessas relações modernas que começam e acabam no mesmo dia, ou que nunca se iniciam, porém mesmo assim logo terminam. Ela está consciente e ok com tais "fatos da vida", com essas relações contemporâneas, descartáveis - menos coração e mais tesão. Só que ainda sente uma mistura de melancolia, espanto e empolgação, porque se dá conta de que estão escutando Arcade. Pode ser que estejam os dois, cada um em sua casa, olhando para o teto, ou de olhos fechados, batucando com os dedos acompanhando o violino ou a linha do baixo. O garoto pode estar observando a vista da cidade, cortesia do décimo primeiro andar. A garota mora numa ruazinha não longe da praia e escuta as ondas se agitando numa noite de chuva.

Como ela sabe de tal coincidência musical? Pelo Last-FM, pelo Blip. Ela detesta ver a foto dele surgir repentinamente na lista do Blip, e já pensou em retirá-lo de seu grupo de ouvintes, mas desistiu depois de ponderar e notar que essa poderia ser considerada uma atitude infantil ("Afinal, é só uma droga de site, não é pra levar a sério, né? E por que eu ligo para a foto dele? É horrível! Ele está com cara de mongol. E quem se importa cada vez que ele dedica uma música para alguém?"). Talvez ela se deteste ao clicar no nome dele para saber o que ele está escutando ("listen to ___'s radio on Last-Fm"). Ela pode se perguntar em quem ele pensa quando ouve Arcade Fire. "Deve ser numa outra aí, naquela tal de '@____'. Conheço bem o tipo dele. Ficar se fazendo de entendedor musical para impressionar as gatinhas. Filho da p***! Eu que apresentei X e Y pra ele, ele nem conhecia! Antes só ouvia essas modinhas. Que raiva que me dá por ter caído nessa!".

Não é de todo improvável que ele se odeie por ouvir uma música que o faz pensar nela. Pode maldizer o dia que aceitou um convite dela para sair, depois que se conheceram num encontro de 'twitteiros' de uma cidade qualquer. Ou pode se enfurecer por ter reparado numa garota que mora a cinco mil quilômetros de distância porque ela tinha uma foto bonita no perfil e escrevia coisas engraçadas sem parecer fazer o menor esforço para tal. Deus sabe que ele não resiste a garotas divertidas e charmosas com bom gosto musical. Deus sabe que ele já gostava de Arcade Fire antes de conhecê-la e acha uma bosta ligar a banda a essa garota, embora tenha certeza de que tal associação é um truque de sua mente, apenas uma piadinha de mau gosto que vai perder a graça em um mês. "Sempre passa, não passa? Ontem era outra, amanhã vai ser mais uma... Elas passam, as bandas ficam. Não ficam? Eu estou certo, não estou? Eu não cometi um erro, mais um erro, ah, eu vivo fazendo m****. Burro. Não aprendo."

Dez minutos de especulações sobre a vida de dois estranhos, para fugir dos meus próprios pensamentos. Alguém deveria saber que redes sociais também serviriam para isso, um dia: a grama do vizinho é sempre mais verde. A história de estranhos é mais empolgante, glamourosa, triste, comovente. Uma belezinha de substituta para as minhas, que andam tão sem graça e indignas de merecerem um registro no Twitter, sabe?

domingo, 29 de março de 2009

the times, the times...

Ouvir o 'The Times, They're A-Changing' foi como a primeira vez que me apaixonei. A primeira vez que eu me apaixonei foi como ir a um lugar que vivia evitando, por saber que, no momento em que entrasse, o acharia tão bom que podia não querer mais sair. Foi (ainda é) o mesmo com o disco. Eu sabia a capa, a ordem das músicas, alguns dos músicos de apoio e as historinhas que o circulam, mas nunca o tinha escutado por saber que ali existia 'algo'.
O tal do 'algo' que você pode perfeitamente viver sem, mas que não dispensa quando o encontra, sabem?
Observando a capinha preta e branca agora só penso que posso correr para outras ruas, outros locais, outras pessoas, outros cheiros e outros desastres, mas ele vai estar ali, escondido no meio de uma pilha de papéis ou de roupas, pronto para dizer, acendendo um cigarro com um sorrisinho no canto dos lábios, 'agora que aprendeu o caminho, é fácil voltar. Pode se comover a vontade, porque ninguém vai ficar sabendo. Somente eu e você'.