sexta-feira, 16 de novembro de 2007
Mais um dia sem tempo
Preciso passar na faculdade e devolver um livro com atraso. Vou à biblioteca que fica lá no terceiro andar, pego o papelzinho da multa de um real, desço, pago a multa na tesouraria que fica no primeiro, subo de novo pro terceiro e peço pra pegar o mesmo livro que devolvi por que ainda não consegui ler.
Aí vou correndo lá no restaurante a quilo almoçar com meu pai. Eu só tenho dez minutos pra comer, sei que não vai dar tempo de ter aquela conversa sobre estágio que ele tá querendo desde que arrumei um emprego em loja. E não vai dar tempo justamente por que preciso trabalhar. Pois é. Deixa eu ir então né.
Qualquer mocinha de vinte e poucos anos de aparência apresentável poderia estar no meu lugar, esse é o perfil. Só isso já faz com que eu queira fugir de lá correndo, voando! Mas eu sou a que tira leite de pedra, super poderosa, como diz a minha gerente. E passo o dia montando minha rede de passado-presente-futuro numa combinação perfeita de sucesso.
O cansaço bate, forte como as marteladas de hoje de manhã na obra da minha cozinha, que aliás, não é mais minha. É do vizinho aqui do lado que comprou meu apartamento pra fazer um duplex pra ele. E já que ainda não arranjei outro canto pra morar, ele começou a reforma comigo aqui dentro mesmo.
Êta vida.
São dez da noite, ainda preciso estudar. E é claro que durmo em cima do livro, com os pés pro alto pra evitar varizes.
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Sessão da tarde.
Eu grito por dentro, mas abafo todo o bom do fato. Eu não sei expelir meus amores, eles vão me corroendo, me debilitando, me adoecendo...
P.s.: Esse texto eu já publiquei há seis meses atrás, mas o conteúdo é tão atual, que resolvi colocar aqui. A vida também tem suas reprises...
Já é tarde
Eu sonhei que você dormia no outro quarto e nessa noite eu sabia que tinha sempre tido pavor todas as noites, medo de ir até onde você dormia e eu tinha que dar um jeito... pôr um fim... durante o dia havia uma promessa nos seus olhos que você viesse até o meu quarto...
Eu não me segurava mais de amor por você e se eunão deixasse você ir no meu quarto, nooutro dia tu ia rir de mim, por eu ser covarde.
Havia tão pouco tempo pro mundo.
Nós estávamos todos um pouco arrasados por não estarmos no Rio de Janeiro.
E a gente queria fugir da casa da sua avó, e eu não sei pra onde é que todos nós iriamos quando saissemos daquele lugar.
Aquela cidade que era parecida com Natal
Me falam que tu mudou pra Bahia com sua esposa quando você se casou.
Eu acho que você pensou em mim quando se casou. Que passou a noite acordado pensando em mim.
E agora, no seu quarto, com seu filho é nas minhas roupas que você pensa.
Eu acho.
você se lembra que na casa da sua avó, ela ficava rondando a casa de noite?
E eu pensava que se eu fosse até o seu quarto, essa velha está tão velhinha e tudo seria tão absurdo que la nem poderia desconfiar.
Eu sou a amiga do neto dela, uma menina boa...
E ela estava lá, tomando conta da gente e do meu irmão que dormia no mesmo quarto que você.
Meu amor
Ela estava tomando conta da casa
Ela bem que podia já estar dormindo, assim eu iria até o seu quarto...
você havia de querer que eu fosse
você havia de me querer pra alguma coisa
Durante o dia você ficava conversando comigo e com meu irmão e você dizia aquelas coisas violentas de quem está louco pra dormir comigo e o sol machucava meu olho e a genet tava morrendo de vontade de estar no Rio de Janeiro.
Porque estavamso todos em Natal
E você falava bonito e eu sou bonitinha.
Eu precisava te arrancar algo, eu fazia charme porque você tinha que olhar pra mim e todo mundo te olhava e te achava lindo, mas ninguém precisava de você tanto quanto eu. Eu precisava disso urgentemente...
É que você me olhava agressivo e eu achava que você ria cruel pra mim mas eu não via minha própria cara debochada pra você
sábado, 10 de novembro de 2007
Sin perder la ternura.
(E você, acredita?)
Se eu não fizer isso, vou ficar batendo a minha cabeça na parede, tem coisas que a gente não sente vontade de controlar e eu sei que vc sabe disso.
Queria poder pedir a ela que não fosse tão igual a mim, porque eu sei no que implica essa impulsividade, essa quase que impossibilidade de controlar o que pulsa, grita, transborda por entre poros, suor, lágrimas e “afins”. Queria que ela soubesse cortar o mal pela raiz, antes que ele tomasse conta de tudo, entrasse na casa dela, opinasse sobre o jantar e depois largasse ela sozinha, com o estrago feito. Que ela pudesse se prevenir contra o pior, porque em determinadas situações o certo é simplesmente não se deixar engolir, sumir, perder o poder sobre si mesmo, se é que isso existe – somos soberanos de nós mesmos? Eu não sei. Pelo menos eu estou mais pra slave of sensation.
Há sempre um ponto onde você pode pular fora, não? Abortar. Pausar. Dar o stop, que é mais definitivo, mas não. Ela não faz isso. E usa as minhas fraquezas como argumento de defesa, enquanto deveria usá-las como exemplo do que NÃO fazer. Cai fora, não vai ser bom pra você. Não pague pra ver o que você sabe que não vai gostar de saber, não faz sentido. Não vá pelo caminho mais difícil. E não me venha com esse papo de que é tudo de propósito, que você sabe o que está fazendo, que são “os pingos dos is”- justamente por ter a mesma natureza que eu, você sabe muito bem que isso é a desculpa mais esfarrapada de todas, pra disfarçar um impulso completamente sem sentido.
...
A diferença entre nós é que eu não ligo se vou pagar o preço pelas merdas que faço, porque são elas que me fazem poder dizer que NUNCA deixei nada pendente, que sempre fiz TUDO aquilo que quis, e o que não fiz, foi porque não tive vontade. Em compensação, olha bem pra mim, e pensa no que eu já fui: você vai compreender a dimensão do dano. E eu tenho medo por ela, não quero que ela se machuque de novo, e mais uma vez. Me dói pensar que ela pode endurecer, deixar de acreditar nas coisas, porque a doçura é a coisa mais bonita que ela tem. Isso é crescer?
Bom, nem quero mais pensar sobre o assunto. Já que eu não posso trancá-la em casa... Boa sorte.
pelo direito de ser piegas, sempre...
Eu quero engolir o mundo, bem forte, e quero engolir você. Sem parar para pensar em nada, sem pedir licença. Vou abrir os braços em volta do teu corpo e te puxar para mim, rápido, te roubar e esconder, para que a tua reação não atrapalhe meus planos.
Quero te mastigar devagar, fixando todos os gostos na minha memória. Você cheira bem, eu tinha certeza. Eu sabia que teu coração batia rápido assim, e que teu corpo iria reagir de imediato, tremer, ondular, as bocas e pernas se arrastando no sobressalto de sentir o que o outro sente. Eu sabia que irias sorrir depois, quando eu misturasse amor e bobagens nos teus ouvidos. Não me importo quando as palavras saem aos borbotões, gaguejadas, sem sentido, honestas acima de tudo.
Vou repetir até que você entenda. Te prometo o mundo, gramados verdes, música, dança, o absurdo da vida, o céu avermelhado do fim de tarde, o lado bom da rotina, abraços para espantar o frio, partilhar uma bacia de pipoca, a lua, a chuva refletindo no asfalto. Prometo o futuro e pequenas cópias da gente fuçando nos discos do Iron e do New Order.
Junto, eu sei, virá o peso, o egoísmo e as dúvidas, minutos de isolamento, escuridão, pequenas dores e conflitos que não posso evitar. Mas farei com que você nem os perceba, impedirei que te machuquem, que firam teus ombros, porque é neles que gosto de cair no sono, ouvindo somente a tua respiração.
Quero passar os dentes devagar na tua pele, para marcá-la. Não vai doer, juro, mesmo se sangrar. Falo isso com o mais inocente dos sorrisos, o mesmo que vejo estampado no teu rosto. É o sorriso que também estará no meu, quando conseguir, afinal, engolir o mundo. E engolir você.
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
O texto da Denise
Bem, ela escolheu um trecho que ela acha lindo, divino e maravilhoso, pra minha estréia aqui....
O conto não tem nome ainda e é na verdade mais uma estória com a Manu.
Eu criei a Manu ano passado e ela é tipo o meu personagem eterno, como o Mandrake do Rubem Fonseca e o Analista de Bagé do Luiz Fernando Verissimo.
Manu usa uma camista branca com o Mickey Mouse estampado e um par de sapatos vermelhos. O primeiro conto com a Manu é passado no Nordeste, o segundo no Rio de Janeiro.
Nessa estória Manu está em Campinas, Denise é uma advogada que resolver defender a Manu e acaba indo morar com ela e eles tem um caso.. e o fim ainda vem.....
Abram alas por trecho aí minha gente:
"N restaurante Marcela falava sem parar. Ela sempre falou muito e eu gostava de escuta-la. mas eu naquela hora eu não ouvia nada, pensava no homem que iria encontrar em casa e na última vez que havíamos conversado.
"Em que cê tá pensando Denise?"
"Lembrando de ontem, festa da família do Rubem, eles não devem gostar de mim sabe? Eu sinto que todo mundo me olha atravessado.
"Não conversam?"
"Pouco. Muito pouco na verdade, mas não é isso que me incomoda. Essas pessoas nunca dizem nada: são pobres e caladas. Parece que eles acham que eu não presto ou que faço pouco pelo Rubem.
"Eu acho que você tem é vergonha deles, porque você está comigo e está com Rubem. Tem medo de todo mundo ficar sabendo. Você acha que tá fazendo coisa errada."
"Não. eu te adoro."
"Eu não queria que você tivesse casado. Não precisava. Podia ficar namorando, podia ir morar com ele ou então que esquentasse os colchões de todos os homens de São Paulo. Mas por que é que você foi casar?"
"Já faz quase um ano que a gente tem essa mesma conversa, eu quero ter uma família quero ter filhos e quero que eles tenham pai e mãe ."
"Eu já estou vendo, você vai grávida, vai ter sua família com seu marido imbecil e aí o bebê vai nascer e vai roubar todo o seu tempo de ficar comigo."
Olhei pela enorme janela de vidro. Talvez Marcela estivesse certa, talvez eu tinha mesmo medo das coisas, vai ver eu não devia nem ter casado. Mas vergonha dela eu não tinha não, só que ela não via que eu amava Rubem tanto quanto a amava e tinha meus planos. De repente percebo Manuela passando pela janela, aperto os olhos para me certificar. É ela mesmo. A menina pára na calçada e olha para o alto, Acompanhei seu olhar: ela olhou diretamente para o sol e ficou esfregando os olhos. Era uma pessoa mesmo estranha. Um garoto parecendo agoniado parou para conversar com ela. Ele alisava a roupa, enfiava e tirava as mãos nos bolsos constantemente. Atravessaram a rua e sumiram por uma porta espremida entre as lojas.
"A minha cliente. É aquela menina."
"Não parece que tem esse perigo todo que falam nos jornais."
"É estranho né? tem quinze anos só, fugiu de casa e foi só pra passar aventuras.
"Taí, e você ainda quer ter filho. Quer dizer, imagina o estado que deve estar a mãe dela. Dá até dó"
"Dói meu coração só de pensar."
Minha cabeça batucava, eu decidi que se conseguisse livrar Manuela, eu ia arrumar minha vida, dar um pé no M.P e trocar de escritório.
M. P. trabalhou muito tempo com minha família e quando me formei ele achou por bem fazer por mim o que meu pai tinha feito por ele. Mas ele é ganancioso demais e o máximo que me fez foi me meter no serviço público e mandar alguns casos bem chinfrins. Normalmente eu resolvia os problemas dele e ele levava os créditos e a grana. Era justo. Pra ele. "
terça-feira, 6 de novembro de 2007
F.E.A.R
do Lat. metu
s. m.,
terror;
receio;
susto.
loc. adv.,
a -: com receio.
Aos dez anos, eu vivia com medo de andar na rua e ser atropelada. Ou de que cocô de pombo caísse na minha cabeça ao passar debaixo dos jambeiros do colégio onde estudava. Aos 12, temia reprovar nas provas de matemática, e aos 16, tinha medo de perder meu primeiro namorado. Aos 20, de não arrumar emprego. Atualmente, aos 25, bate as vezes um certo receio de nunca ter filhos.
O atropelamento, ufa!, não veio, mas o cocô caiu de forma certeira, duas vezes, uma em cada braço, em dias próximos do final de 1992. Na sexta série, fiquei de prova final em matemática, e não reprovei sabe-se lá por quê. Logo ao completar 17, meu primeiro namorado admitiu que andava com outras garotas porque morávamos em cidades distantes e ele não sentia mais minha falta. Passei longos períodos sem emprego, que foram, vieram, mas nunca foram tão graves. E os filhos, bem... prefiro acreditar que um dia eles virão, ainda que isso demore um certo tempo.
Moral da história? Medo não protege, nem afaga. Medo é uma sensação falsa de segurança, de controle da própria vida, que a gente nem tem. Medo só paralisa e impede de olhar para os lados. Impossível de não sentir, mas possível de desviar. Portanto, eu desviarei do medo antes que ele me consuma por todos os poros. E antes que ele me impeça de correr dos meus próprios sonhos, me prendendo pelos calcanhares e me trancando na gaveta da rotina.
Eu devo isso só a mim mesma, a mais ninguém. Três vivas para o umbiguismo.