Não consigo encontrar nada que preciso no meio dessa bagunça toda. Já vesti jeans e blusa branca pra descomplicar, mas meu all star tá perdido, meus brincos também, meu cabelo tá de maluco e ainda tô sem comer desde que acordei. Pelo menos tem toddynho, sem essa caixinha eu nem levanto da cama.
Preciso passar na faculdade e devolver um livro com atraso. Vou à biblioteca que fica lá no terceiro andar, pego o papelzinho da multa de um real, desço, pago a multa na tesouraria que fica no primeiro, subo de novo pro terceiro e peço pra pegar o mesmo livro que devolvi por que ainda não consegui ler.
Aí vou correndo lá no restaurante a quilo almoçar com meu pai. Eu só tenho dez minutos pra comer, sei que não vai dar tempo de ter aquela conversa sobre estágio que ele tá querendo desde que arrumei um emprego em loja. E não vai dar tempo justamente por que preciso trabalhar. Pois é. Deixa eu ir então né.
Qualquer mocinha de vinte e poucos anos de aparência apresentável poderia estar no meu lugar, esse é o perfil. Só isso já faz com que eu queira fugir de lá correndo, voando! Mas eu sou a que tira leite de pedra, super poderosa, como diz a minha gerente. E passo o dia montando minha rede de passado-presente-futuro numa combinação perfeita de sucesso.
O cansaço bate, forte como as marteladas de hoje de manhã na obra da minha cozinha, que aliás, não é mais minha. É do vizinho aqui do lado que comprou meu apartamento pra fazer um duplex pra ele. E já que ainda não arranjei outro canto pra morar, ele começou a reforma comigo aqui dentro mesmo.
Êta vida.
São dez da noite, ainda preciso estudar. E é claro que durmo em cima do livro, com os pés pro alto pra evitar varizes.