Me manda um bom dia. Uma palavra, um alô. Um abraço, um fio de cabelo, uma mensagem no telefone, um pouco de ti. Manda para mim os cinco segundos que o teu braço tocou no meu, o jeito que você inclina a cabeça quando fala com alguém, os teus olhos, sempre parecendo perdidos num local inacessível. Manda um sorriso, para que eu possa lembrar de como você é quando ri, porque eu quero paz, e não essa pressa que fica a espreita por todo lugar que eu passo, o tempo que me assusta, rugindo pesado nos meus calcanhares. Manda o teu cheiro, as tuas músicas favoritas, os livros que você nunca leu, os filmes que detestas. Me dá uma tela em branco, ou, melhor, seja a minha tela, limpa, nova em folha. Vou transformar as tuas costas nas páginas que vão receber as poesias que nunca tive coragem de te entregar, e os teus braços e pernas darão espaço aos desenhos que te fiz, os que tu nunca vais ver, porque eles têm cores e formas se confundindo, se atropelando, exatamente como eu, que vivo tropeçando na minha própria ansiedade. Me empresta a tua boca, para que ela treine, junto com a minha, as palavras que não consigo te dizer. Ou então me dá algo para me deixar na expectativa de que vou, logo, perder o senso e tornar minha voz maior que o medo de você não me reconhecer quando eu te disser quem eu sou.
Possivelmente, aquela que vai jogar o papel onde escreveu tudo isso fora, achando um devaneio causado pela falta de sono.
Ou, quem sabe?, o teu próximo e mais improvável amor.